Alto rio Negro
Trilhamos um caminho em que nos deparamos com inúmeros tipos de músicas. O fato dessas capturas de imagens, sons e timbres aparecerem de forma bem eclética nos glorifica com a diversidade da arte sonora da Amazônia ocidental. Diversidade essa que inclui músicas Baníwa, cantos Desana, bandas de música popular, como a Marupiara, de seu Ademarzinho de São Gabriel da Cachoeira, e todo o instrumental do alto rio Negro. Também tivemos a oportunidade de registrar em Roraima o consagrado poeta Eliakin Rufino e outros ritmos dos Macuxi, Wapichana e Taurepang, destaque para as danças Parixara. O nosso foco, portanto, foi a música em todas as formas que tivemos a oportunidade de conhecer nessa viagem que ocorreu no início do ano de 2013.
Alto Rio Negro – Fomos para São Gabriel da Cachoeira no dia 18 de março de 2013. O início dos trabalhos do projeto no alto rio Negro foi com Banda Marupiara. Eles nos apresentaram músicas conhecidas na região como Cuximauara (ritmo regional, que mistura o forró e a lambada). Os instrumentos da formação da Banda Marupiara na ocasião do nosso encontro era: gaita, guitarra solo e base, contrabaixo, pandeiro, triângulo, zabumba, vocal e back vocal. Gravamos com a banda Marupiara 07 faixas, sendo 03 em nheengatu e 4 em português.
Conforme íamos conhecendo os músicos de São Gabriel da Cachoeira, mergulhávamos mais na música do lugar. Foi assim que conhecemos Denilson Reis, locutor da Rádio Municipal da cidade. Além de encabeçar um programa sobre música regional, ele tocou violão e cantou a música O índio, de sua autoria.
Por indicação da Prof.ª Dr.ª Deise Montardo, do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da UFAM, conhecemos o trabalho de seu Luiz Laureano Baníwa e Moisés Baníwa sobre a música de sua etnia. Fomos até Itacoatiara-Mirim e conhecemos a maloca do Mestre Laureano e de sua família. Lá registramos diversos instrumentos de sopros, como por exemplo: o Japurutu, apitos de ossos, cariço, flauta de pã e a flauta sagrada Jurupari. Percebemos que os Baníwa, os Desana e Tukano compartilham esses mesmos instrumentos aerófonos.
Foi na Rádio Municipal de São Gabriel da Cachoeira, por indicação de Pedro Paulo (um dos locutores da Rádio Municipal) que ficamos sabendo da Banda TR. Assim, cruzamos o Alto Rio Negro até a Foz do Rio Içana, na comunidade de Boa Vista. Lá gravamos com a banda TR (Tainá-Rukena), ela estava constituída por um tecladista, vocalista e guitarrista. A maioria das letras das músicas estão voltadas para a valorização da cultura Baré. As danças tradicionais, crenças, rios, cachoeiras e outras motivações, algumas delas foram cantadas na língua Nheengatu. O mais interessante foi que de repente, em Boa Vista do rio Içana, começaram a aparecer várias pessoas curiosas a respeito do projeto e instigadas para participarem também desse registro. Foi nesse embalo que gravamos com Camilo e Domingos e a banda GIUPAC. Ambos cantaram músicas religiosas de teor cristão em nheengatu sob uma base de teclado em ritmo de calipso.